13 setembro 2006


Diz-me o que vês quando olhas para mim porque já não reconheço o meu reflexo no espelho. A imagem que vejo é distorcida, encoberta pelo fumo que me envolve.

Vês as veias à flor da pele? Eu vejo-as mas já não sinto o sangue a correr dentro delas.

Gostava de me soltar de mim. Ver-me de fora, ver-me como tu me vês. Ver o que não vejo ou não quero ver em mim.

Parte de mim morre para que algo nasça. E durante este meu pequeno voo de Fénix o fumo da última explosão não me deixa ver o começo da nova chama. Por isso diz-me tu, que vês para lá dos fumos e dos fogos. Que vês quando olhas para mim?

Ainda sei quem fui, mas quem sou só saberei quando o fumo dissipar e puder ver o meu reflexo de novo.

8 comentários:

ivamarle disse...

"Gostava de me soltar de mim. Ver-me de fora, ver-me como tu me vês" por vezes gostava de ver-me com essa clareza, mas se pensar bem, acho que afinal prefiro a bruma que me encobre; devo ter medo da crueza da realidade...

rui-son disse...

Ver a realidade nunca é fácil. Às vezes as coisas que não queremos ver estavam melhor por ver, mas muitas vezes estamos melhor na luz que no meio do fumo.

(tinha uma gralha, ou melhor, faltava-me uma palavra no texto)

* disse...

queres ver-te por fora ou queres que te digam o que vêem em ti?

firmina12 disse...

os espelhos são perigosos

Paulo disse...

Há algo que também arde sem se ver....

Salto Angel disse...

«Ainda sei quem fui, mas quem sou só saberei quando o fumo dissipar e puder ver o meu reflexo de novo»

Grande verdade, sim senhor!!...

Abraço.

Elipse disse...

Gostei deste texto. Já te tinha dito que o registo em prosa com sabor a poesia é onde te enquadras melhor.
Não gosto muito do segundo parágrafo, talvez por causa da redundãncia "o sangue a correr dentro delas".
O resto está bem escrito, sentido e poético.
Beijinho.

Thinker disse...

Um olha inseguro perante si mesmo, uma neblina no olhar, um secreto rejeitar....

É preciso correr o mundo e se abraçar, largar tudo e voltar, mar e odiar, para perante a vida se aceitar a si, enquanto ser! É assim o ser enquanto ser, por vezes um olhar carregado outras há distrocido da sua realidade incerta :)

Gostei deste teu "olhar pra si"

Um abraço :)