26 março 2007

Um novo ínicio

Salto de nuvem em nuvem à procura do meu sonho. Sobranceira e maternal a Lua acompanha-me, como sempre. Não sei o que procuro, mas sei que está lá. Vasculho em todas as nuvens, procuro em todas as gotas de água, mas não encontro.
Vejo a Lua ir e vir vezes sem fim. Às vezes corro atrás dela para que não deixe de ser noite. Conheço assim o mundo todo, sempre através das nuvens.
Danço pelas paisagens macias como campos de algodão, mas sinto-me sempre vazio. O mundo parece cada vez mais pequeno, tenho medo que quando descer já não haja espaço para mim. Estou há tanto tempo nas nuvens que a ligação com a Terra começa a desvanecer. Perdi-me à procura de um sonho que já não sei se existe, e agora tenho medo de voltar. Sinto que já não encaixo lá…

Um bater de asas chama-me à atenção que ao fundo o Sol nasce, mais um dia sem sonhos. Já não estou habituado à luz… Corro para a Lua mas nem ela me pode guiar esta noite. Um traço minguante é tudo o que resta no céu, e mesmo isso está a desaparecer. É então que vejo…

Não vás! Mostra-me a tua verdadeira cara! Deixa-me ver o teu lado negro, o lado que ninguém vê. O meu sonho está lá! O meu coração está lá! Eu sei que sim, percebi-o finalmente.

Ela não responde. Quase a desaparecer… Mas não vou deixa-la fugir! Não agora que vi, na escuridão da lua nova, o meu sonho. À boleia num raio de sol voo mais rápido, apresso-me para chegar à Lua antes que ela desapareça.

Na escuridão da face oculta vejo o meu próprio reflexo.

Estou aqui! Mas não te vejo… Na tua face oculta vejo a minha… Não percebo. O que é isto? Porque não posso ver o meu sonho? É o MEU sonho! Mostra-me!

Não tenho resposta. Choro estrelas cadentes que se perdem no vazio do espaço, e também eu me sinto vazio. Nada faz sentido afinal…

Tu és eu? Como pode ser? Não entendo. FALA! Porque me fazes isto? Diz-me como pode isto ser!

Sinto-me engolido pelo desespero. A raiva e a tristeza puxam-me cada vez mais fundo. Primeiro os meus sonhos, depois eu… levados pela escuridão… desapareço…




Renasço depois, em parte incerta. Tudo o que sei é que já não estás lá.

11 comentários:

ivamarle disse...

...em contrapartida, TU, estarás sempre à chegada, para te dar as boas-vindas...

já agora: bem vindo ;-)

Elipse disse...

há que partir e depois voltar para sabermos quem somos.
bem vindo aqui e ao mundo.

Anónimo disse...

É na busca do ir e voltar que crescemos. Gostei muito e sê bem vindo!

Paulo disse...

Percorri todas as caminhadas e, em todas, encontrei pégadas de caminhos inútei.
Que fiquem ainda as minhas como monumentos efémeros de mais uma tentativa humana desesperada e falhada de encontrar o caminho que se escolheu...
Páro exatamente aqui...! Onde nenhuma vontade me trouxe como barco a que partiram o leme ou a que rasgaram as velas pois, como dizes:
"na escuridão da face oculta vejo o meu próprio reflexo". Interessante!!!

Um abraço
Paulo

caminante disse...

Paswaba por aquí. En vuelo rasante me encontré en tu casa. Me alegró mucho.
Un fortísimo abrazo.

psique disse...

bem vindo e a lua partilhamo-la?

Luís disse...

Aguardamos os primeiros paços subsequentes a este renascimento.

Um abraço

Anónimo disse...

Há que soltar as amarras e voltarmos ao ponto de partida com uma visão cósmica,assim identicámo-nos melhor tal com o reflexo de um espelho.

Bom início de semana

Bjs Zita

Ana disse...

Ainda bem que voltaste :-)

Luís Galego disse...

Danço pelas paisagens macias como campos de algodão, mas sinto-me sempre vazio.

texto lindissimo não obstante durissimo...

Pedro Morgado disse...

Parabéns pela nova cara!