Marasmo
Queria só deixar dois beijinhos muito grandes para a Ivamarle e para a Elipse.
Posted by rui-son at 20:19 6 comments
Não foi por ele que vim. Aliás, nem o conhecia, nunca o tinha visto antes. Bonito como muitos outros, mas um estranho… mais um estranho…
Atravesso a sala. Um visitante na casa que é para muitos última morada. Débeis, doentes, ou simplesmente velhos, abandonados. Os rostos viram-se à minha passagem, mas mantenho-me distante.
(Foi o milénio que nos fez distantes? Foram “os novos modos de vida”?
A verdade é que estamos cada vez mais longe até das pessoas de que estamos perto. Cada vez nos é mais fácil ficar indiferente ao sofrimento dos outros… o homem que tira a comida do lixo, a criança que pede na rua, a sombra que dorme no vão de escada…
Onde aprendemos esta indiferença? Não costumávamos viver em sociedade? Espera… ainda vivemos, não é?)
No meio de tantos era só ela que me preocupava. As marcas da ultima operação ainda não estavam saradas. Mas mais que isso, acho que se sentia sozinha como todos os outros.
No entanto, naquele dia, foi ele que me ficou na memória.
(Será que até ao sofrimento dos nossos já ficamos indiferentes?)
O olhar estava perdido, não, mais do que isso, estava vazio. Já não havia nada para trás daqueles olhos…
Não diria que estava insano, apenas perdido. Os tremores… os tiques nervosos… o abanar de cabeça…
Algo dizia-me que ele estava a olhar para mim apesar de não olhar na minha direcção. Fazia algo… será que me tentava cheirar? Não o fazia na minha direcção, mas mais uma vez acho que era para mim.
Tentou levantar-se, vir na minha direcção, mas o corpo já não o permitia. Continuou apenas a olhar para mim (mais uma vez digo, não olhava na minha direcção mas acho que era para mim!).
Foram os olhos que me prenderam, mas não foi um olhar intenso ou de sofrimento. Foi mesmo pelo facto de estarem tão… vazios. Arrepiantemente vazios… A mente já não estava lá… Sobrava um corpo, um casulo vazio, instável.
No final, vim embora… Não havia nada que eu pudesse fazer por ele… Gestos carinhosos foram tudo o que consegui esboçar.
(Não consegui ficar indiferente… Mas será que não havia mesmo nada que pudesse fazer?
Pensamos isso muitas vezes, dormimos melhor à noite assim… Se calhar é verdade que ainda vivemos em sociedade, mas esta evoluiu… Agora vivemos sozinhos em sociedade. Acho que podemos dizer que vivemos numa sociedade de apartamentos. À semelhança do que se passa num prédio, partilhamos o mesmo espaço, mas estamos todos sozinhos…)
(Esta pessoa de quem vos falo não é uma pessoa, mas sim um cão que encontrei numa das minhas visitas ao veterinário em nome da ABRA. Soube que tinha leucemia, e isso afectou-lhe o cérebro. Todas as emoções e tudo o que ele me transmitiu são, no entanto, como descrevi. Tentei transporta-las para aqui tão bem quanto possível, mas acho que ficou muito aquém do que ele me transmitiu.
Como uns olhos vazios mexeram tanto comigo….)
Posted by rui-son at 17:38 11 comments
(Só agora a ver a data do post anterior é que me apercebi do tempo que estive sem internet! Mas até é bom ver que quem se achava dependente de internet (como eu), afinal consegue passar bem sem ela. Ehehe!
Posted by rui-son at 21:02 12 comments
Posted by rui-son at 23:09 15 comments
Posted by rui-son at 09:56 10 comments
Salto de nuvem em nuvem à procura do meu sonho. Sobranceira e maternal a Lua acompanha-me, como sempre. Não sei o que procuro, mas sei que está lá. Vasculho em todas as nuvens, procuro em todas as gotas de água, mas não encontro.
Vejo a Lua ir e vir vezes sem fim. Às vezes corro atrás dela para que não deixe de ser noite. Conheço assim o mundo todo, sempre através das nuvens.
Danço pelas paisagens macias como campos de algodão, mas sinto-me sempre vazio. O mundo parece cada vez mais pequeno, tenho medo que quando descer já não haja espaço para mim. Estou há tanto tempo nas nuvens que a ligação com a Terra começa a desvanecer. Perdi-me à procura de um sonho que já não sei se existe, e agora tenho medo de voltar. Sinto que já não encaixo lá…
Um bater de asas chama-me à atenção que ao fundo o Sol nasce, mais um dia sem sonhos. Já não estou habituado à luz… Corro para a Lua mas nem ela me pode guiar esta noite. Um traço minguante é tudo o que resta no céu, e mesmo isso está a desaparecer. É então que vejo…
Não vás! Mostra-me a tua verdadeira cara! Deixa-me ver o teu lado negro, o lado que ninguém vê. O meu sonho está lá! O meu coração está lá! Eu sei que sim, percebi-o finalmente.
Ela não responde. Quase a desaparecer… Mas não vou deixa-la fugir! Não agora que vi, na escuridão da lua nova, o meu sonho. À boleia num raio de sol voo mais rápido, apresso-me para chegar à Lua antes que ela desapareça.
Na escuridão da face oculta vejo o meu próprio reflexo.
Estou aqui! Mas não te vejo… Na tua face oculta vejo a minha… Não percebo. O que é isto? Porque não posso ver o meu sonho? É o MEU sonho! Mostra-me!
Não tenho resposta. Choro estrelas cadentes que se perdem no vazio do espaço, e também eu me sinto vazio. Nada faz sentido afinal…
Tu és eu? Como pode ser? Não entendo. FALA! Porque me fazes isto? Diz-me como pode isto ser!
Sinto-me engolido pelo desespero. A raiva e a tristeza puxam-me cada vez mais fundo. Primeiro os meus sonhos, depois eu… levados pela escuridão… desapareço…
Renasço depois, em parte incerta. Tudo o que sei é que já não estás lá.
Posted by rui-son at 16:49 11 comments
Os exames acabaram nem há uma semana e para a semana já começam as aulas. Estava eu nas arrumações de pré inicio de aulas quando desencantei uns quantos textos antigos. Uma coisa é certa, já naquela altura escrevia uma poesia que tinha mais de prosa poética que de poésia. Mesmo assim queria deixar aqui um texto, é da altura do meu nono ano... mas é sempre bom recordar.
Queria ainda agradecer à Elipse duas coisas. Primeiro por me ter dado coragem de expor aqui os meus textos. Em segundo lugar por me ter sugerido escrever em prosa poética, que já era o que eu fazia apesar d tudo, só que sem o saber. Um sincero obrigado Elipse, e um beijo deste teu aluno adoptado.
Quem sou eu?...
Cara cortada,
Riscos profundos que escorrem
Desde os meus lindos olhos até...
Que lâmina poderá fazer isto?
Que coisa é esta que me marcou tanto?
Amor? Não!
Amor não corta, queima!
A paixão também queima,
Que foi então?
Coração aberto,
Sangrando lágrimas!
Como é possível?
Que coisa tão terrível foi
Para me deixar assim...
Neste estado de dor...
Tenho agora a certeza, não foi amor.
Olhos inchados,
Tão vermelhos que eles estão,
E porquê?
Quem me pôs assim?
Algo mais terrível que o próprio diabo!
O que foi que eu fiz, o quê?
Quem sou eu?
Garganta seca arranhada,
Porquê? De cantar?
Não, não ficava assim!
De amar?
Não, pois ninguém me ama a mim.
Só pode ser de cantar,
Que mais poderá ser?
Que mais...
Não sei mas,
Se cantasse, talvez estivesse mais feliz...
Meu deus!
Agora percebi!
Já sei quem sou,
Sou a Tristeza,
Tenho a cara cortada
Porque as lágrimas tristes a cortaram.
Coração aberto, sangrando lágrimas,
De quem não ama nem é amado.
Olhos inchados,
De chorar por ti,
Mas quem és tu?...
A garganta, seca e arranhada,
De te chamar,
De gritar o teu nome para que todos o ouçam,
De te invocar a todas as horas,
De te querer ter,
A ti, só a ti!
Para te partilhar com todos!
Minha querida,
Felicidade!
Depois de passar este texto vejo que há tantas coisas que mudaria se o reescrevesse. Talvez um dia reescreva... mas achei mais importante partilha-lo assim como o escrevi, sem qualquer alteração. Por muito que me tenha custado não mudar algumas coisas...
Posted by rui-son at 00:08 18 comments
"«O que me surpreende é que tão poucos pensem que também poderiam saborear os frutos do paraíso.»
Posted by rui-son at 01:22 10 comments
Eu já tinha deixado os meus votos de bom ano quando escrevi o post do Natal (ainda assim sou muito prático), mas é sempre bom reforçar. Até porque no estado em que está o país começa a parecer que só nos safamos mesmo com sorte... Por isso eu desejo a todos boa sorte e que o ano de 2007 seja melhor que o passou.
Muitas felicidades e um Bom Ano Novo para vocês!
Pedir que todos os nosso sonhos se realizem se calhar também é de mais, mas pelo menos que alguns dos vossos sonhos (e dos meus) se realizem neste ano e que tudo corra pelo melhor.
Que nunca deixem de sonhar e que tenham sempre força para as batalhas que tiverem de travar! Os sinceros desejos de um Bom Ano!
Nada melhor que uma piada para começar bem o ano (cliquem para aumentar).
Posted by rui-son at 03:09 7 comments
Ainda trago comigo o espírito dos poetas. Ainda me deleito ao ler as palavras da velha guarda. Ainda acredito que a poesia deve ser escrita à mão! Os sentimentos não são informáticos, não se pode esperar que as teclas traduzam emoções. A mão é a extensão do pensamento, e como tal, da emoção. É a ela e ao meu lápis que recorro para expressar o que sinto, é neles que confio.
Não me revejo em zeros e uns! Não me revejo em pixeis e RGBs! Quando olho para a minha letra, e venha quem quiser critica-la, sei que escrevi o que sinto, e vejo no que escrevi o que sinto! Não sou anti tecnologias, nada disso, mas sou a favor das emoções. Antes de mais e de tudo o resto, emoções! Sou ser humano, ser social e emotivo. Pouco social… eu sei, mas emotivo, sempre! Sou ser humano, mais emotivo, mais humano!
Trago no meu caderno emoções escritas, as de hoje e as de outros dias, e a estas se hão de seguir as de amanhã. Todas elas esculpidas no ritual nocturno do papel e da grafite ao som crepitante das emoções vividas. Emoções que se espelham agora, a horas tardias, no olhar maternal da Lua sobre o meu ombro. Olhar terno e compreensivo que sempre me acalma o sentir mas não o desejo de esculpir palavras.
E é nestas folhas que sonho acordado histórias minhas, histórias de vida inventadas, histórias que só partilho se quiser.
Posted by rui-son at 23:55 10 comments