(Peço desculpa pelo tamanho do post, mas vale a pena, digo eu)
Ao passar os olhos pelo índice da Xis, vi uma reportagem, que não podia deixar de ler. O título era “Mania de chegar atrasado”, e como tal, não pude ficar indiferente. Por pura curiosidade, claro (Coff! Coff!), nada de pessoal.
"Quem nos vê [aos portugueses] de fora mantém a opinião de que há, de facto, uma tendência cultural para contemporizarmos com a falta de pontualidade, e é provavelmente por isso que este proverbial mau hábito se colou, como uma etiqueta, à nossa reputação."
Uma prova disto, é o facto de nunca marcarmos nada para uma hora certa. Um jantar, uma festa, uma reunião, etc. nunca são marcados para uma hora, mas são marcados para um período de tempo. Isto é, não vamos a um jantar marcado para as 21h, mas sim, para um jantar marcado pelas 21h. E como tal não se pode esperar, nem sequer criticar, que alguém não apareça às 21h em ponto, mas sim, pelas 21h/21h30, quando não é mais tarde.
E se, quando isto se passa num ambiente casual, por exemplo entre amigos, ainda se percebe facilmente o clima de descontracção face aos horários, outras situações há, em que tal descontracção pode passar por uma falta de respeito. (Isto aos olhos dos não lusos claro)
Refiro especificamente, a reuniões, colóquios, seminários, … Que são, por norma, agendados da mesma maneira. Reunião de trabalhadores, pelas 15h, ou seminário sobre estado da economia portuguesa, com início pelas 14h30. Está claro que, perante tal cenário, nem trabalhadores, nem oradores, nem ninguém, estará presente, exactamente à hora marcada. Como é “óbvio”, essa é a hora a que as pessoas começarão a chegar. O evento ou reunião seguirá, assim que as pessoas tiverem chegado (mais uma vez, pelas Xh).
Cúmulo desta situação são as aulas. No secundário a hora de entrada não é no toque principal, mas antes, até ao segundo toque (e quem não se revê neste exemplo que atire a primeira pedra!). Nas aulas da universidade, onde as pessoas são, à partida, mais maduras, este cenário intensifica-se, contrariando o previsível. Pois agora, dado a falta de importância dada pelos professores aos alunos, e às suas respectivas entradas nas salas, qualquer hora é boa para entrar, desde que não se faça barulho ao entrar no auditório.
"A falta de pontualidade é apenas a ponta do icebergue da falta de rigor, de organização, concentração e espírito sistemático dos portugueses."
Eu diria antes alguma coisa do género: a falta de pontualidade, a falta de rigor, a falta de organização, a falta de concentração, a falta de espírito sistemático e crítico, a total incapacidade de gerir dinheiro em percursos maiores do que da mão para o bolso, … são apenas a ponta do icebergue das razões porque o país está no estado que está. A pontualidade no meio do resto, quase, a meu ver, desaparece, ou pelo menos, perder muita importância. Mas são opiniões.
"Muitos de nós chegamos atrasados aos compromissos por supormos que os outros também se vão demorar e como, de uma forma geral, o prognóstico se confirma, reincidimos neste comportamento."
Realmente é verdade, para quê chegar a horas, se sabemos que a pessoa com quem nos vamos encontrar, vai chegar atrasada. Mais vale tentar prever o atraso, e se conhecermos bem a pessoa pode ser que consigamos fazer isso, e atrasarmo-nos nós igualmente. Assim não perdemos tempo à espera da outra pessoa.
A brincar que diga isto, tem o seu quê de verdade. Quando combinamos algo com uma pessoa que sabemos ser atrasado compulsivo (e de maneira nenhuma me retracto neste cenário, Coff! Coff!) não vale realmente a pena cumprir o horário, pois só nos valerá, muito provavelmente, uma valente seca.
Agora passando isto de novo para o contexto universitário, e acrescentando-lhe a minha experiência, gostava de dar um exemplo, que me parece apropriado.
Vários professores meus chegam, por sistema, no mínimo 15min atrasados. Agora digam-me, quando isto é um dado mais que adquirido, qual o objectivo em estar na sala à hora da aula? Ainda por cima quando as aulas são à primeira da manhã ou da tarde, onde o nosso tempo era melhor passado a dormir ou a almoçar calmamente, em vez de sentados à espera dos ditos professores.
Agora se me perguntarem, será que os professores vêm tarde por saberem que os alunos chegam por norma atrasados? Não vos sei responder, mas o meu palpite, muito sinceramente, é que o seu atraso se deve, acima de tudo, à prerrogativa lusa do “portuguesmente atrasado”.
"O mais curioso é constatar que são quase sempre os mesmos que fazem desta prática o seu estilo de vida[...]. Os retardatários crónicos interrompem aulas, palestras e reuniões, [...] são sempre os últimos a chegar ao trabalho, a um jantar[...]."
(Coff! Coff! Coff!) Peço desculpa pela tosse, (Coff!) mas neste estado (Coff!) não me parece possível escrever um comentário a estas frases. Contudo, “estilo de vida” também me parece um bocado exagerado.
Acrescento apenas que não gosto do termo “retardatário crónico”, prefiro antes “atrasado genético”. Assim pelo menos há a em quem deitar as culpas pelo atraso, aos genes, e eventualmente, a quem nos passou genes com tal defeito.
"[...] outros há que nem sequer lhes ocorre desculparem-se pelo seu comportamento, tido como um traço natural e distintivo da sua personalidade."
(Coff! Coff!) Maldita tosse! Está difícil escrever o post.
Sou obrigado a concordar com uma coisa, se achava “estilo de vida”, uma expressão demasiado forte, “traço natural e distintivo da personalidade” parece-me perfeito. Liga com aquela coisa do genético. E por outro lado, é uma coisa a juntar à lista de características pessoais. Ser atrasado pode ser equiparado a outras características tais como, ter mau feitio, ser teimoso, maníaco-obsessivo, … Não que alguma delas esteja na minha lista. (Coff! Coff!)
"Segundo os especialistas, existem diversos tipos de atrasados crónicos, mas qualquer que seja o perfil, aparentemente há um denominador comum: o desejo de chamar a atenção dos outros."
Sinceramente, não sei se isto será verdade em todos os atrasados. Parece-me, por pessoas que conheço claro, que às vezes, simplesmente existe uma incapacidade natural de chegar a horas. Por muito que me esforce (Coff!), se esforcem, e tentem inclusive chegar antes da hora prevista, no fim de contas chegam sempre atrasados.
"Já num adulto, uma vez instalado o hábito, é mais difícil corrigi-lo."
Era impossível para mim saber se isto é verdade ou não. Uma vez que ainda sou um jovem, ou será que sou um jovem adulto? (COFF! COFF!) Quer dizer, uma vez que não sou atrasado, (Coff!) claro… cabeça a minha…
"O ritmo biológico é outra explicação para os atrasos. Está provado cientificamente que cada um de nós tem um horário de melhor desempenho, sendo manifestamente mais difícil para um noctívago cumprir as suas obrigações nas primeiras horas do dia."
Pois, só falo por mim, mas minha cama sabe muito bem de manhã, aí até às 13h, agora de noite não nos damos muito bem. Deve ser o meu amor à Lua que me faz gostar tanto da noite. Porque é, realmente, muito complicado para mim fazer coisas de manhã. Isto tentando refutar aqui, um bocadinho, aquela coisa do desejo, generalizado a todos os atrasados, de chamar a atenção com o acto do atraso.
E claro, está implícito nas minhas palavras, que qualquer atraso, hipotético, por minha parte, se dará de manhã, e nunca (Coff!) de tarde ou de noite.
"Também é importante percebermos e assumirmos que a forma como lidamos com o relógio diz muito sobre a nossa educação e o nosso temperamento. É na estrutura familiar que criamos hábitos e regras que mais tarde reproduzimos."
A minha relação com o meu relógio é assim, ele está 5min adiantado. E, vendo as horas com calma, tiro-lhe sempre os 5min, quando estou com pressa, normalmente, não me lembro de o fazer. Não que isso me impeça de chegar atrasado na mesma (COFF!), eu não disse isto.
Mas admito, apesar de nunca ter pensado nisso, que enquanto atrasado genético, parte do meu atraso, vem provavelmente dos meus genes, ou pelo menos, dos meus hábitos familiares. Isto é, vivendo num ambiente em que não se prima pela pontualidade, é normal (faz-se me luz agora) que tais hábitos não se ganhem. Em alguns casos mesmo, tais hábitos, ou melhor, a falta deles, podem mesmo agravar-se. Não que seja o meu caso, claro.
"Numa sociedade tão exigente e complexa como a nossa, é uma questão de procurarmos definir prioridades, sabendo de antemão que nunca iremos ter tempo para fazermos tudo o que precisamos ou gostaríamos de fazer."
Só para concluir, depois desta magnifica frase, queria dizer que, apesar de ser por norma, atrasado, isso não me traz nenhum prazer especial. Muito pelo contrário. Apesar de não conseguir deixar de me atrasar, incomoda-me constantemente o chegar atrasado e deixar pessoas à espera. Em parte se calhar, porque dado a minha falta de experiência em esperas, não tenho paciência nenhuma para esperar por outras pessoas. E cada vez que isso se sucede, nem que seja num atrasado pequeno, fico logo a espumar de raiva e extremamente irrequieto.
Há contudo, uma coisa em que nunca me atraso, o cinema. Não entro numa sala de cinema com atraso. Posso ficar à espera 2h da sessão seguinte, mas não perco 5min que sejam do início do filme. Acima de tudo, porque me incomoda bastante o perder alguns segundos ou minutos de filme. Mas também porque incomoda muito ter pessoas a passar à nossa frente na sala. É contudo, provavelmente, a única coisa em que sou assim obcecadamente pontual.